
Tem que olhar bem devagar. Cada pedacinho, todos os detalhes, para perceber que é uma caixinha diferente.
Pode ser que não sejamos capazes de ver a diferença olhando por fora. É uma caixinha quase comum.
Tamanho médio.
Textura suave.
Cantos arredondados.
Desenho sinuoso.
Cor clara.
Se estiver entre outras caixas maiores e mais espalhafatosas, talvez nem a vejamos.
Silenciosa.
Discreta.
É preciso olhar por dentro para descobrir os tesouros que ela guarda.
Em cada cantinho.
A cada centímetro.
Em todos os pedacinhos.
Tesouros de encantar a gente. De abraçar corações.
Tesouros de embrulhar a voz, enevoar a vista, acarinhar a pele, adoçar os ouvidos.
É lá dentro que estão as mais delicadas surpresas.
Uma plantinha brotando feliz em um vaso de sol. Um caracol passeando e cantando pelo jardim. Uma pombinha chocando, alegre, dois ovinhos no ninho, bem na ponta do galho da árvore. Três abelhas conversando na pétala da flor. Um caco de espelho refletindo o céu. O grilo e a grila namorando a criquilar. O vento balançando, bem mansinho, pequenos sinos de cristal. Uma gatinha branca se espreguiçando no degrau.
Faíscas de amor boiando no ar.