Era um Barolo, mas eu não tinha a mínima noção do que isso significava.
A única coisa que sabia é que gostava e já tinha tomado uns bons pares de taças. A fala já estava atrapalhada, a língua tinha crescido na boca e todos estavam se divertindo comigo, inclusive eu.
Era a última noite de cruzeiro, a saideira, e tudo estava tão maravilhosamente perfeito que eu nem pensei em mais nada, só queria me distrair com meus amigos, regada a um bom vinho tinto.
Fim de noite.
Senta-se uma senhora na mesa longa onde estávamos e começa a conversar. Papo vai, papo vem, descobrimos que era uma conterrânea. Mais ainda, descobrimos que ela tinha quatro filhos.
– Opa, eu também tenho quatrossss filhosssss.
Falei eu, afinal, isso é tão raro hoje em dia. E continuei:
– Quatrossss filhos? Quem tem tudo isso? Eu tenho, quatrossss filhosssss.
E mostrava quatro dedos com a mão mole de vinho Barolo bebido até o último gole.
Não sei porque, empaquei nessa frase. Fiquei repetindo sem parar até a mulher se cansar e se mandar.
– Quatrosss filhossss – mostrava quatro dedos.
– Você tem quatrosss filhossss? – mostrava quatro dedos.
– Eu também tenho quatrosss filhossss – mostrava quatro dedos.
– Quatrosss filhossss – mostrava quatro dedos.
Bom, a mulher me achou uma bêbada louca e se mandou, é claro. E deve contar essa história para seus netos até hoje.
Meus amigos a contam em todos os churrascos. Foram eles que me contaram, inclusive.
E eu, morri de ressaca no dia seguinte.
♥♥♥