
Você tem o direito de ficar, e só.
De deitar na rede azul numa tarde quente e perder a vista olhando seus próprios pés parados, para cima, no ar.
É seu o direito de perceber todos os tons de vermelho que aquela planta tem e a grama verde, perfeitamente aparada, arrematando a madeira que contorna o caminho de areia que te leva para longe daqui.
Você tem o direito de demorar para sair do carro porque quer terminar de ouvir e cantar a música que nunca toca, mas está tocando agora te fazendo lembrar de momentos especiais da sua vida e te dando arrepios de prazer.
Tem o direito de parar tudo no meio do dia para se sentar em um bar qualquer, se encostar na cadeira, soltar o cinto da calça, soltar os braços, soltar as mãos, soltar os olhos e o pensamento e pedir um picolé enquanto congela o tempo.
Você tem o direito de escutar o canto das aves nas árvores do jardim, do começo até o fim.
De sentar no alto da rua para ver o sol se pôr e a noite nascer.
Tem o direito de ouvir a chuva e de se demorar debaixo da água morna do chuveiro, enquanto ela escorre pela cabeça, nuca, costas, coxas, pernas e depois fingir que se enxuga só para deixar a água molhar o chão e fazer desenhos ensopados.
Você tem o direito de querer parar de pensar para fazer alongar o seu dia e tornar a vida mais comprida, as horas mais demoradas, os amores mais bem vividos, os sorrisos muito mais verdadeiros.
Tem o direito de sentar lá fora e olhar o ar, olhar para nada, apenas ficar.
De não ter pressa, de ir devagar, de reparar no encaixe das telhas do telhado, de procurar com os olhos o outro gavião no mato, de apreciar o tronco descascado da árvore.
Tem o direito de se largar no sofá e ficar olhando o teto, de se deitar no chão de pedra em dia de calor, de espiar na janela até a vista cansar, de pegar um livro e não ler, de ficar parado de pernas abertas e braços para cima sentindo o vento passar.
Você tem o direito de ouvir o silêncio, e só. De caminhar descalço, e só. De não falar nada, e só. De olhar para o infinito, e só. De sentir um coração pulsar, e só. De observar, apreciar, admirar, e só. Sem motivo, sem pretexto, sem porquê.
Só porque você quer. É no vagar que nasce a inspiração.
Tina Zani ❥❥❥