Os pés estavam cruzados.
Em um deles nasceu uma flor, um girassol.
Sempre que os pés se punham em movimento, a levavam na direção do sol.
O pé de flor se esfregava no pé sem flor. Os dedos também se moviam. Pareciam pequenos caules balançando com o vento.
A planta do pé sem flor estava por cima e roçava forte sobre o pé de flor, mas ela não queria se mover. Estava bem, assim parada, sentada na cama, com a cabeça nas nuvens e os pés cruzados. Não tinha vontade de ficar de pé, nem de botar os pés no chão, então deixou que eles continuassem o esfrega-esfrega sobre o colchão.
O pé sem flor não tinha flor, mas tinha uma pulseira de concha amarrada no tornozelo. Era um lembrete. Um chamado para o mar.
Os dois pés tinham pequenas veias finas e aparentes, onde corriam o sangue e o calor.
Às vezes o pé sem flor cansava de roçar no pé de flor e apenas se agitava, impaciente, para lá e para cá, enquanto o pé de flor repousava quieto mesmo. Depois trocavam um pouco, o pé de flor é que ficava por cima do pé sem flor, para não dormirem e formigarem.
Mas no pensamento seguinte, eles começavam a se pegar tudo de novo. Um roçava, o outro esfregava e os dois se ralavam.
Parecia uma luta.
Parecia o amor.
♥♥♥