
vou falar sobre o medo. você tem?
basta a gente querer acerta para ele nascer. se tanto faz, não tem medo, mas se é importante, o medo vem.
pensei bastante sobre isso.
por exemplo, imagine que você resolva prestar um vestibular para uma universidade pública tipo usp ou unicamp de novo, nessa altura do campeonato – mais ou menos em torno dos seus 45 anos de idade e já sendo formado em alguma coisa. você vai lá, escolhe um curso que te interessa e faz a sua inscrição tranquilamente. encara tudo numa boa e como uma mera tentativa, já que não vai rachar de estudar porque não é uma prioridade na sua vida e nem tem ganas para isso mais. você já é casado, já tem filhos crescidos que estão na faculdade ou prestando vestibular, tem casa, cachorro, gato, passarinho, tem um trabalho bom e que te realiza. você não precisa fazer outro curso superior. simplesmente teve essa ideia e resolveu tentar. quase como uma brincadeira, sem muitas expectativas e nenhuma pressão. há muitos anos você não estuda e nem faz uma prova.
depois que se inscreve, você se sente leve e alegre. teve uma ideia, venceu o próprio preconceito, se inscreveu.
mas aí, para sua própria surpresa, descobre que passou na primeira fase.
que maravilha! que delícia! veja só, você passou, não é demais? você vibra, comemora e se sente muito capaz. percebe que, de repente, parece que você tem mesmo alguma chance. começa a te dar uma vontadezinha de entrar de verdade, de fazer o curso mesmo. e aí você resolve dar uma estudada, fazer uma revisão rápida para aumentar suas chances para a segunda fase. é então que os problemas começam a aparecer.
aquela brincadeira do início virou um desejo grande de que tudo dê certo, virou uma coisa importante para você e a simples possibilidade de não conseguir, de você não satisfazer o seu próprio desejo começa a te deixar tenso, preocupado, inseguro e com… tchan tchan tchan tchan… medo. mais que isso, a insegurança e o medo começam a gerar dúvidas sobre a sua capacidade, e as consequências de tudo isso, se você continuar se sentindo assim, não serão bons resultados.
esse, na minha opinião, é um dos principais motivos pelos quais muitas pessoas capazes, bem preparadas, estudadas e bem informadas nunca conseguem passar em concursos ou vestibulares: importância demais; pressão em excesso; cobrança ingrata e desumana imposta por elas a elas mesmas.
quantas pessoas você conhece que vão para as provas sossegadas, tranquilas, descansadas e passam? eu conheço várias.
bom, mas por que estou divagando sobre tudo isso afinal?
para concluir que descobri que é preciso confiar no processo da vida. algumas coisas não cabem a nós resolver, temos que deixar acontecer. temos que aprender a abrir a mão, a soltar, a deixar fluir. não é o medo, a insegurança, as dúvidas que vão trazer o resultado que esperamos. ao contrário, é a confiança – cega, surda e muda – no ritmo e fluxo da vida que nos levará para onde queremos ir.
ampliando essa investigação sobre o nascimento do medo – que muito me interessa, pois é algo que tem me assaltado com frequência nos últimos meses – para outras áreas da vida, deduzi que, na verdade, o que o medo nos mostra é o nível de cobrança que temos sobre nós mesmos em relação aos resultados que produziremos. o medo diz respeito muito mais a nós e às dúvidas que temos sobre nós do que a fatores externos.
lá no fundo, bem no fundo, talvez até inconscientemente, sabemos disso. não gostamos de admitir que temos dúvidas e seguimos nos esforçando, nos torturando, tentando agarrar o destino com unhas e dentes. mas o destino é futuro e o futuro é espaço, é vento, é ar em movimento e não serve para ser agarrado com as mãos.
talvez seja melhor recortar um papel, pintar de prateado, prender as pontas com um alfinete numa vareta e brincar descontraído de correr na rua segurando um cata-vento, se é que você me entende.
parece fácil, por isso desconfiamos. estamos muito acostumados com a ideia de que a vida é dura. mas os sábios dizem que a vida é próspera e abundante e que só o que temos que fazer é parar de forçar e controlar e aprender a receber.
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Amei loucamente esse texto Mil vezes, obrigada!
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