uma substância meio lisa
no corpo
que se delonga nas entrelinhas
do poema
que tenho entre os dedos
uma substância que chega em ondas
nas veias
como soro feito de água e sal que se bebe depois do porre e dissolve
tanto álcool quanto seiva
até sobrar mais nada que
uma substância meio mar
uma substância do tamanho que envolve a
negra noite estrelada quando espelha nas águas o
mar
uma substância insolente
uma substância despudorada
uma substância corpo
que me entorna aos goles ainda morna pelas linhas do poema e
as folhas brancas dobradas no canto superior direito
uma substância planta uma
substância viva uma substância fresca
uma substância fértil
uma substância que sendo fértil concebe o
que de dentro se derrama
quando a última folha se solta e o que sobra é um corpo
sem folhas um corpo substância e
as linhas e entrelinhas escorregadas para o chão abandonam o texto
quando poema e corpo se encontram.